Alfa, Bravo, Charlie… tudo sobre o alfabeto fonético da aviação ✈️🔤

Na aviação, há pouco espaço para mal-entendidos. Toda a comunicação tem de ser clara, e uma confusão entre duas letras pode ter resultados imprevisíveis.

A comunicação por rádio, sujeita a interferências, complica ainda mais a tarefa. E apesar da maior parte da comunicação ser numa só língua, o inglês, tanto pilotos como controladores aéreos podem ter sotaques bem distintos, tendo em conta a sua origem e língua materna.

É por isso que, desde as origens da aviação comercial, se tem tentado facilitar ao máximo a comunicação através da criação de regras e padrões, como se faz por exemplo com as unidades de medida. O alfabeto fonético é uma dessas inovações que conta já com mais de 70 anos.

A comunicação nos céus

Desde os anos 50 que o inglês é a língua das alturas. Isto porque tanto os Estados Unidos como o Reino Unido foram pioneiros na aviação comercial, mas também porque esta era já a língua utilizada por várias organizações internacionais.

A Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), uma agência das Nações Unidas, estabeleceu a obrigatoriedade de testes de fluência em inglês, tanto para pilotos como para controladores aéreas. Segundo a própria agência, esta obrigatoriedade é uma consequência de acidentes fatais em que o fraco domínio do inglês foi considerada uma das causas.

Mas não basta que todos falem a mesma língua para evitar mal-entendidos. A comunicação por rádio, por entre interferências e sem a ajuda da linguagem corporal, exige especial clareza.

Na hora de soletrar, pode ser complicado diferenciar entre duas letras, principalmente para quem fala inglês como segundo língua. Por exemplo, no árabe, não existe o som “p”, apenas “b”, pelo que mesmo para quem aprende inglês estes sons continuam a ser um desafio.

Dentro do inglês existem uma variedade infindável de sotaques. E por isso, mesmo para falantes de inglês como primeira língua, letras como o “g” e o “j” podem ser difíceis de distinguir. Daí ter surgido a necessidade de criar uma forma fácil

O alfabeto fonético

Para simplificar a tarefa dos pilotos e controladores aéreos, a OACI adotou, a 1 de Novembro de 1951, o alfabeto fonético. A cada uma das 26 letras do alfabeto foi atribuída uma palavra cuja inicial é essa letra. Assim, alfa significa A, bravo significa B, Charlie significa C, e por aí adiante como podes ver na tabela abaixo.

Esta não foi a primeira para criar um alfabeto deste género. Anteriormente, a organização que antecedeu à OACI, tentou fazer o mesmo em 1931. Este alfabeto era baseado em cidades, como Amesterdão para A ou Trípoli para T.

Mas algumas destas cidades tinham nomes demasiado longos e durante a 2ª Guerra Mundial, era mais comum usar-se um alfabeto que usava palavras inglesas como Able para A e Baker para B, principalmente entre as forças aéreas norte-americanas, inglesas e australianas.

Finalmente, em 1948, a recém-criada OACI começou a tarefa de criar um alfabeto fonético que hoje conhecemos. Com a ajuda de linguistas, a organização procurou palavras que obedeciam aos seguintes critérios:

– Tinham de ser palavras em uso escritas de forma semelhante em Inglês, Francês e espanhol;

– Tinham de ser fáceis de pronunciar por rádio;

– Não podiam ter significados negativos ou conotações indesejadas.

E assim, depois de muitos testes com participantes de 31 nacionalidades, construiu-se um novo alfabeto fonético bem perto do que se utiliza hoje. A tarefa foi demorada, já que se procurava não só as palavras mais fáceis de compreender mas também a melhor combinação possível.

Por exemplo, dita de forma isolada, Football parecia ser a melhor palavra para associar à letra F. Mas Foxtrot acabou por ser a escolhida porque essa se distinguia melhor do restante alfabeto.

Mesmo assim, depois de todos estes testes ainda continuaram a existir reclamações pelo que apenas em 1956 se fixou a versão final deste alfabeto.

E os números?

O alfabeto fonético popularizou-se bastante e hoje é utilizado em muitos contextos, desde forças policiais até mesmo por leigos, em situações como chamadas telefónicas. E quem já viu algum filme que envolva aviões certamente já ouviu este alfabeto a ser utilizado.

Talvez não tão conhecido seja o facto de também existirem formas diferentes para dizer os números quando utilizados num contexto de aviação. Em específico, os números 3, 4, 5 e 9 são ditos de forma diferente do inglês padrão.

O três, ou three, é dito como trí. Cinco é fife invés de five, e o nove diz-se niner ao invés de nine. E, para ter a certeza que todos os números são compreendidos de forma clara, diz-se sempre dígito por dígito. Assim, o número 305 é anunciado como TRÍ ZERO FIFE.

Exceções

Mesmo um sistema desenhado para ser o mais estandardizado possível, quando utilizado em todo o mundo, vai acabar por ter exceções.

Aeroportos que servem muitos voos da companhia aérea norte-americana Delta Airlines, incluindo a sua base de operações, Atlanta, usam a palavra Dixie para a letra D, ao invés de Delta como no alfabeto fonético.

Também para evitar confusões, na Indonésia, Singapura e Malásia usa-se London no lugar de Lima para a letra L, uma vez que a palavra lima significa “cinco” no malaio e no indonésio.