Em mais uma crónica no seu périplo pelo Japão, o nosso editor leva-nos à fascinante exposição Borderless, provavelmente a maior experiência de arte digital do mundo. Bela, impressionante, única. No entanto, poderá o mundo real competir com um projecto desta magnitude, quando temos tudo à disposição de um estalar de dedos?
“The grass was greener, the light was brighter,
The taste was sweeter, the nights of wonder”
High Hopes, Pink Floyd (1994)
Já sabia que a experiência seria prazerosa, ou não teria sequer contemplado pagar 25€ por um bilhete de acesso à exposição. Todos os sneak peeks publicitários prometem uma enriquecedora experiência imersiva onde os espectáculos de luzes, espelhos, cores, fumos, hologramas e outros que tais interagem com os visitantes para criar uma experiência artística volátil e maleável. Numa palavra: impressionante. Tudo certo. Mas eis que o dia chega. Tóquio havia sido tudo aquilo que eu nunca sequer pensei que alguma cidade pudesse ser, e sabia que, no fim desta visita, regressaria ao hotel para fazer as malas.
Em jeito de despedida, decidi visitar a exposição Borderless, uma gigantesca (e extremamente popular) experiência visual, montada no interior do Museu de Arte Digital do Mori Building, bem junto à Tokyo Tower.
Inicia-se a experiência numa sala escura como breu. Um ecrã simples passa as informações genéricas sobre o que devemos esperar e abre-se uma porta oculta na parede. Percorro longos corredores negros – uma escolha que não é inocente. Chamemos-lhe um limpa-palato sensorial que faz com que a primeira impressão seja de dimensões astronómicas. BAM! Da escuridão total entramos num mundo diferente. As paredes cobertas de espelhos e projecções de flores feitas de luz, de uma nitidez inquietante, cores garridas e movimentos fluídos.
A cada sala por onde avanço (qual labirinto), a cada parede que observo sinto-me mais distante da realidade e mais integrado (afundado?) numa coisa qualquer que não é real, mas que é verdadeira. É verdade que estou a ver tudo isto, mas nada disto é real. E o meu cérebro não está equipado para compreender essa distinção. A arte e a tecnologia unidas para criar experiências sensoriais de transcendência – mais uma vez, o Homem a querer trazer para a vista aquilo que não se vê.
Arriscar-me-ia a afirmar que, para aqueles de nós que, acostumados à viagem como ferramenta de afiar os sentidos (porque em viagem olhamos com mais detalhe, tocamos com maior delicadeza, cheiramos, saboreamos e ouvimos com mais atenção o mundo à nossa volta), para esses que sentem com maior intensidade, dificilmente se passa ileso por uma experiência artística destas. Na qual somos convidados a participar (não só presenciar) em momentos que poderiam ser descritos como magia – e onde voltamos a ser crianças.
Os cenários mudam, as projecções interagem connosco, as luzes atravessam-nos. Ali naquela sala podemos experienciar os mais belos florescer de 100 primaveras à medida que girassóis, papoilas e camélias se transformam à nossa volta, para depois dar lugar à mais impressionante cascata de água feita de luz; somos atravessados por extensos grupos de borboletas coloridas que voam através de nós; somos assoberbados por imagens estonteantes, gigantes, impossíveis de replicar de outra forma. Por momentos, também nós, rodeados de luzes, parecemos hologramas.
E foi então que percebi. A beleza inigualável, hiper-estimulante e altamente absorvente e interactiva presente naquelas salas contrasta com a beleza gentil e delicada do mundo real, onde só podemos viver 1 primavera de cada vez, e cada florescer se arrasta pelo tempo testando a nossa paciência. Olho à volta e vejo os tantos jovens e crianças a desfrutar da arte que os envolve, rendidos à beleza absurda e megalómana que nos rodeia e esmaga os sentidos. E não posso evitar indagar:
Será que a beleza de um simples céu estrelado será suficiente … ?
Será que a beleza de uma serena paisagem montanhosa será suficiente … ?
Será que a beleza de um leão longínquo camuflado na savana será suficiente … ?
Será que a beleza de uma construção milenar inamovível será suficiente … ?
Será que alguma experiência lá fora na vida real, onde as cores não são tão garridas, onde as construções não se movem, onde muitas vezes temos que ser meros espectadores que contemplam o mundo sem interferência… Será que alguma dessas experiências poderá superar aquelas salas de magia?
Não sei a resposta, mas espero que seja um sim.
Desfrutei da experiência, recomendo a experiência e aprecio a experiência. Mas, nos entretantos, fiz por limpar o palato, mergulhei os sentidos num detox profundo, e voltei às belezas mais simples, mais serenas, mais estagnadas da vida real. E desejei que sejam sempre essas as que me permitem “viajar”, mais do que aquelas fabricadas por luzes e tecnologia.
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