A Privatização do Mar Morto 🇯🇴

  • 08.01.2023 11:45
  • Bruno A.

Mais uma edição das crónicas do nosso editor sobre o Médio Oriente, agora pelas margens do Mar Morto. Ao longo da sua epopeia pelas margens deste lago de água (extremamente) salgada, viu paisagens incríveis, locais a vender na berma da estrada e uma selva de hotéis a cada quilómetro de costa. O mais difícil foi mesmo conseguir encontrar uma praia não vedada e de acesso público.

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O dia começou cedo, como todos os grandes dias de viagem sempre começam. Não por opção, mas por necessidade. Afinal, haveriam de ser ao todo quase 6 horas na estrada, por entre caminhos cortados e intermináveis estradas em ziguezague, para completar o trajecto entre Amman e Wadi Musa, cidade na qual poderás encontrar a famosa Petra, uma das Sete Maravilhas do Mundo.

Pelo caminho, o plano passava por parar no Castelo de Kerak e, acima de tudo, pelas margens do Mar Morto, um gigantesco corpo de água que, apesar do nome, é na realidade um lago partilhado por Jordânia e Palestina. Para além de ser o ponto terrestre com menor altitude em todo o planeta, estando 400 metros abaixo do nível médio do mar, este lago é também conhecido pela enorme concentração de sal das suas águas. Aliás, é precisamente esse factor que ajuda a que nenhum ser-vivo sobreviva neste ecossistema, razão pela qual o Mar Morto foi baptizado com um nome tão pouco abonatório.

Mas deixando de parte explicações científicas e etimológicas, o que queria mesmo era nadar (ou melhor, boiar) nestas águas. Já tinha o carro desde a tarde anterior, as sandes devidamente embaladas e o depósito cheio. Como cereja no topo do bolo, e apesar de estarmos em Dezembro, os termómetros marcam a simpática temperatura de 26 graus nas margens do Mar Morto. Se até S. Pedro estava do meu lado, não tinha como correr mal!

O azul-turquesa por detrás das vedações

Assim que a silhueta da água começa a espreitar pelo nevoeiro e por detrás das colinas, a até ali inóspita e vazia estrada começa lentamente a ganhar vida. Os locais montam barracas à face da rua e aproveitam a fama deste lugar para ganhar alguns trocos. Uns disponibilizam duches rápidos em chuveiros improvisados, ao passo que outros vendem snacks para enganar o estômago ou água para matar a sede, que tende a surgir mais forte que o habitual quando se entra em águas tão salgadas. Com isto, lembro-me que é praticamente obrigatório lavar o corpo logo após sair do Mar Morto, sob pena de fazer o resto da viagem num sofrimento desnecessário. Carrego um garrafão de 6 litros na mala do carro e faço-me novamente à estrada. Agora é que vai ser!

Ao longo do caminho, reparo que praticamente todos os acessos à costa estão vedados, e que um novo e descaracterizado resort parece surgir a cada poucas centenas de metros. Bato com o nariz na porta uma, duas, três vezes. Sempre que tento aceder a algum sítio que me permita sequer molhar os pés, de imediato sou interpelado por alguém que me apresenta desde logo as condições para que o possa fazer. Condições de segurança, perguntam vocês, face ao elevado teor de sal da água? Não, não, condições financeiras! E não são nada meigos – nada menos que 25 JOD (33€) pela excelsa oportunidade de boiar na Amman Beach, a praia mais famosa, e pelos vistos a mais barata, de todas as concessionadas no Mar Morto.

São quilómetros e quilómetros disto. Grades e vedações, vedações e grades. Erigidas pelos muitos alojamentos da região para restringir o acesso a um espaço que se deveria querer público, em nome do lucro. Para tornar tudo pior, não estamos propriamente a falar de hotéis pequenos ou guesthouses, mas sim de autênticos conglomerados económicos. Enquanto turista, a premissa de ter que pagar para nadar no Mar Morto torna-se um bocadinho mais fácil de engolir… Mas então e os cidadãos jordanos, obrigados a pagar um balúrdio para usufruir de um recurso do seu próprio país? E tudo para encher os bolsos de quem financia os Hiltons, os Marriotts e os Movenpicks desta vida.

Uma praia qualquer – brought to you by Hilton Hotels

Bem sei que as praias do Mar Morto não são propriamente recreativas, e que qualquer Jordano que queira verdadeiramente fazer praia no seu país irá para Aqaba, mas não assistimos já ao mesmo processo em tanto locais paradisíacos deste planeta? Em países como Cabo Verde, Egipto ou Jamaica, existem praias para “nós” e praias para “eles”. E infelizmente para os povos desses locais, a “nossa” fracção está a ficar cada vez maior, em detrimento da sua. Consegues imaginar o que seria ser obrigado a pagar para entrar em Matosinhos ou na Caparica, ou ter apenas acesso gratuito a uma secção pequena destes areais, ao passo que a maioria estaria reservada a Americanos, Franceses ou Suecos?

Bem, talvez aí o povo saísse de vez à rua. Levem-nos a habitação, os serviços públicos e a possibilidade de ter uma vida digna onde nascemos… Mas não nos levem as praias!

Quanto à minha aventura pelo Mar Morto, e após muita paciência, lá acabei por encontrar um espaço gratuito logo depois da estrada para o Desfiladeiro de Wadi Mujib. Mas isso agora já não interessa. Afinal, esta crónica nunca foi verdadeiramente sobre a minha viagem, pois não?

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