Para a crónica inaugural da sua aventura por terras iranianas, o nosso editor deixa-nos o testemunho da sua surpresa face ao progressismo, abertura e atitude de contra-poder de Teerão, a gigantesca capital do país. A demonstração perfeita de que um governo nunca deve ser confundido com a integralidade da sua população, especialmente em sociedades totalitárias.
Chego à porta de embarque à pressa. São 13h30, estou a pé desde as 8h00 e ainda estou em jejum. A acompanhar-me está um saco do KFC. É Ramadão, e se considerarmos que não comi de madrugada, antes do sol nascer, acho que o número de horas passadas sem consumir qualquer alimento já quase me qualifica como cumpridor deste ritual Islâmico.
Meio envergonhado, abro o saco na sala de espera para o embarque e como sofregamente os quatro pedaços de frango frito. Sei que não estou a cometer qualquer acto ilegal, mas não quero ferir susceptibilidades. Afinal, estou prestes a embarcar para Teerão e a aeronave vai quase exclusivamente preenchida com cidadãos iranianos, que, a acreditar nas notícias, são uns extremistas religiosos de primeira água.
Olho à minha volta e não vejo uma única mulher de hijab. Incrédulo, vou confirmando à medida que embarcam e mostram o passaporte ao pessoal da linha aérea. Yap, são mesmo iranianas. Olho com mais atenção e começo a ver, aqui e ali, outros passageiros a comer. Ok, não estão a devorar fast-food feitos alarves como um certo turista europeu, mas aos olhos de Allah, tanto é haram (proibido) quebrar o jejum antes do tempo com um amendoim, como com um banquete.
Após aterrarmos, todas as senhoras cumprem o mesmo ritual. Abrem a mala, retiram um lenço à pressa e colocam-no por cima da cabeça. Depois de 4 meses pelo Médio Oriente, especialmente os 2 passados no Omã e na Arábia Saudita, é impossível não reparar na discrepância entre as mulheres iranianas e as de estas duas nações. No Irão, o uso do hijab é obrigatório. Oficialmente, não é permitido mostrar o cabelo em público. No entanto, as corajosas mulheres de Teerão colocam esta arcaica regra à prova.
Se na Arábia Saudita, onde o hijab não é obrigatório, 90% das mulheres utiliza o niqab (a indumentária onde apenas se veem os olhos), diria que, pelo menos em Teerão, 90% das mulheres usa pouco mais que um pedaço de tecido sobre os ombros, cobrindo apenas uma fracção minúscula dos seus cabelos longos e negros. Algumas, para nossa surpresa, não utilizam absolutamente nada, arriscando serem alvos de perseguição criminal em prol da defesa da sua liberdade.
O que nos traz ao título desta crónica. Durante o tempo que passei em Jeddah e Muscat, desenvolvi uma saudade enorme da movimentação e vida das cidades europeias. Dos cafés, dos metros, das roupas ocidentais. De ver mulheres nas ruas, casais de namorados de mãos dadas. De ver corpos tatuados e cortes de cabelo alternativos com cores berrantes. De sentir que as cidades são para as pessoas, não para os carros.
Teerão cumpre todos estes requisitos. Não é a cidade mais bonita do mundo, mas é uma gigantesca metrópole cosmopolita e liberal. É o motor da mudança que o Irão precisa. O governo do país pode ser extremamente religioso, mas o seu povo não o é. Aliás, quanto mais o Ayatollah se eterniza no poder, recusando o progresso e o relaxamento dos trâmites Islâmicos, mais a sedução do contrapoder empurra os Iranianos para o laicismo.
Quem diria que aquilo que não encontrei em Amman, Jeddah, Riyadh ou Muscat, viria a encontrar na capital Iraniana. Uma realidade social (bem) mais próxima daquela a que estou habituado e que tanto prezo. Porque um governo pode mudar as leis, mas nunca poderá decretar sobre os valores do seu povo. Obrigado Teerão, que lufada de ar fresco.
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